Inveja branca de novo
Opinião divulgada por @nomescientificos
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Ela também disse ‘inveja branca’!”
Em abril, uma participante do BBB usou a expressão ‘inveja branca’ ao se referir a Juliette e a acusação de racismo nas redes sociais e na mídia veio à jato. Agora, a acusada de racismo é Ana Maria Braga.
No programa ‘Mais Você’, do dia 22 de setembro, a apresentadora disse a um repórter, que estava numa plantação de girassol: “Eu fui repórter de rua durante muito tempo e morro de inveja, inveja boa, inveja branca de estar aí onde está”.
Na mesma medida em que muitas pessoas se indignaram com a fala de Ana Maria, chamando-a de racista, acredito que outras tantas devem ter se indignado com uma acusação tão grave sendo feita de forma automática e superficial. O debate reapareceu na internete.
A pergunta que antes de tudo deve ser respondida é: TODA citação de cor, branco/preto, tem vínculo a raça?
Se você entende que não, então concorda que as pedras atiradas à apresentadora foram uma repreensão injusta. Se você entende que sim, recomendo que reveja outras expressões também e repense sobre a seriedade de uma acusação dessas.
Então, volto a explicar.
A associação da cor preta a situações negativas e a branca a positivas existe desde os primórdios da linguagem, pelo mundo todo, sem se referir a raça ou etnia.
A escuridão sempre causou medo, pois é onde temos dificuldade de enxergar e, por isso, estamos mais vulneráveis. Isso é fisiológico; não é cultural.
A ausência de luz e, portanto, a cor preta acabaram, por metáfora, associadas a coisas ruins; a claridade e as cores alvas, a coisas boas. É daí que vêm as etimologias de ‘esclarecer’ e ‘denegrir’ (outro alvo de acusações).
Quem é contra a ‘inveja branca’ precisaria também banir outras associações à cor. Afinal, é preciso ser consistente no raciocínio.
Veja algumas: ter carta branca (ter plenos poderes); pomba branca (ave símbolo da paz); arma branca (com lâmina de metal); centro espírita mesa branca; bandeira branca (sinal de trégua); flores brancas (simboliza pureza); magia branca (magia benigna); noiva se casar de branco; mentira branca (dita para não magoar); passar o Ano-Novo de branco; dar um cheque em branco (dar confiança); greve branca (a que os empregados permanecem no trabalho, mas de braços cruzados).
No candomblé, branco é a cor da pureza – e eu imagino que ninguém ali seja racista por isso.
Por outro lado, em outras situações, o branco é associado a coisas não tão boas em várias outras situações: passar o dia em branco (não fazer nada); o açúcar preto é mais saudável que o açúcar branco e o mesmo vale para o chocolate; mão branca (o agente do IML); pano branco (tipo de micose); ficar branco de medo; no caratê, o iniciante é faixa branca; dar um branco (se esquecer); branquinha (cocaína); madeira-branca (madeira que não é de lei); elefante branco (algo suntuoso e sem serventia ou incômodo); jornalismo chapa-branca (que faz oposição branda ao Governo); branqueamento do coral (síndrome séria dos recifes); barriga-branca (homem dominado pela esposa); passar em brancas nuvens (sem comemoração ou sem ser notado).Volto a lembrar um antigo provérbio português: “nem todo branco é farinha” – similar ao “nem tudo que reluz é ouro”.
Acredite: nem toda palavra ‘branco’ ou ‘preto’ se refere a raça.
Original: @nomescientificos
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Foto: IstoÉ Gente, 2021.
Sugestão: Cláudio S. R. Júnior.
Graças a Deus, há esperança para a humanidade, ainda existem pessoas sensatas nos meios acadêmicos.