Confira abaixo algumas frases, quotes, de Theodor W. Adorno. Estes trechos foram tirados do livro Educação e Emancipação (traduzido por Wolfgang Leo Maar).
Adorno e seus textos de Educação e Emancipação fazem parte da bibliografia básica para a seleção de mestrado em Educação da USP (Universidade de São Paulo) e de muitas outras Universidades.
Neste apanhado de palestras, também há a participação de Hellmut Becker, o qual debate inúmeros temas com Adorno.
“A semiformação é o espírito tomado pelo caráter de feitiche da mercadoria” (Theodor W. Adorno – Ensaio Teoria da Semiformação)
“em casa de carrasco não se deve lembrar a forca para não se provocar ressentimento”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“Apagar a memória seria muito mais um resultado da consciência vigilante do que resultado da fraqueza da consciência frente à superioridade de processos inconscientes. Junto ao esquecimento do que mal acabou de acontecer ressoa a raiva pelo fato de que, como todos sabem, antes de convencer os outros é preciso converser a si próprio”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“Estar saciado tornou-se a priori um palavrão, embora o mal que há em relação à saciedade é que existe quem não tem o que comer”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“Em meio à prosperidade, até mesmo em período de pleno emprego e crise de oferta de força de trabalho, no fundo provavelmente a maioria das pessoas se sente como um desempregado potencial, um destinatário futuro da caridade, e desta forma como sendo um objeto, e não um sujeito da sociedade: este é o motivo muito legítimo e racional de seu mal-estar”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“O nacionalismo está descrente em relação a si mesmo e, apesar disto, é necessário como sendo o meio mais eficaz para levar os homens à insistência em situações objetivamente ultrapassadas”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“Delírios coletivos, como o anti-semitismo, confirmam a patologia daquele indivíduo que revela não encontrar-se psiquicamente à altura do mundo e se refugia num fantasioso reino interior. Esses delírios podem até dispensar o indivíduo semi-enlouquecido da necessidade de enlouquecer por completo (…)Por mais claramente que o delírio do nacionalismo se apresente no medo racional de novas catástrofes, ele acaba promovendo sua própria expansão. O delírio é um substituto do sonho de uma humanidade que torna o mundo humano, sonho que o próprio mundo sufoca com obstinação na humanidde. Mas ao pathos nacionalista se junta tudo o que ocorreu entre 1933 e 1944”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“onde a educação política é levada à sério e não como simples obrigação inoportuna, ela provoca um bem maior do que normalmente se supõe”.(Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“Se quisermos contrapor objetivamente algo ao perigo objetivo, não bastará lançar mão de uma simples ideia, ainda que seja a ideia da liberdade ou da humanidade, cuja conformação abstrata (…) não significa grande coisa para as pessoas. Se o potencial fascista se apoia em seus interesses, por mais limitados que sejam, então o antídoto mais eficaz, porque evidente em sua verdade, permanece sendo o te atentar aos interesses das pessoas, sobretudo os mais imediatos”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“O passado só estará plenamente elaborado no instante em que estiverem eliminadas as causas do que passou. O encantamento do passado pôde manter-se até hoje unicamente porque continuam existindo as suas causas”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“Um primeiro passo da conscientização de si mesmo é não assumir a estupidez como integridade moral superior; não difamar o esclarecimento, mas resistir sempre em face da perseguição aos intelectuais, seja qual for a forma em que esta se disfarça”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“Onde falta a reflexão do próprio objeto, onde falta o discernimento intelectual da ciência, instala-se em seu lugar a frase ideológica, nos termos do deslumbramento daquela infeliz tradição alemã segundo a qual os nobres idealistas vão para o céu e os materialistas ordinários vão para o inferno”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“Se não fosse pelo meu amor em ser interpretado equivocadamente como sentimental, eu diria que para haver formação cultural se requer amor; e o defeito certamente se refere à capacidade de amar. Instruções sobre como isso pode ser mudado são precárias. Em geral, a definição decisiva a respeito se situa numa fase precoce do desenvolvimento infantil.Mas seria melhor que quem tem deficiências a este respeito, não se dedicasse a ensinar. Ele não apenas perpetuará na escola aquele sofrimento que os poetas denunciavam há sessenta anos e que incorretamente consideramos hoje eliminado, mas além disto, dará prosseguimento a esta deficiência nos alunos, produzindo ad infinitum aquele estado intelectual que não considero ser o estado de uma ingenuidade inocente, mas que foi co-responsável pela desgraça nazista”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“O complemento da vulgaridade é a empolação, a inclinação por palavras situadas fora do horizonte da experiência de quem fala, que por isto mesmo saem de seus lábios como se fossem palavras em língua estrangeira que possivelmente levarão o professor algum dia a dificultar a vida dos seus alunos”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“O indivído só se emancipa quando se liberta do imediatismo de relações de que maneira alguma são naturais, mas constituem meramente resíduos de um desenvolvimento histórico já superado, de um morto que nem ao menos sabe de si mesmo que está morto”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“As pessoas acreditam estar salvas quando se orientam conforme regras científicas, obedecem a um ritual científico, se cercam de ciência. A aprovação científica converte-se em substituto da reflexão intelectual do factual, de que a ciência deveria se constituir. A couraça oculta a ferida. A consciência coisificada coloca a ciência como procedimento entre si própria e a experiência viva”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“Na incapacidade do pensamento em se impor, já se encontra à espreita o potencial de enquadramento e subordinação a uma autoridade qualquer, do mesmo modo como hoje, concreta e voluntariamente, a gente se curva ao existente”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“Aos futuros professores não caberia tanto converter-se a algo que lhes é estranho e indiferente, mas sim seguir as necessidades que se impõem no seu trabalho, impedindo que desapareçam por pretensas imposições do estudo”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“Um ensino através da televisão evidentemente só funciona de modo correto quando um professor presente à transmissão discute e explica o que foi apresentado.” (Hellmut Becker – Educação e Emancipação)
“A antinomia social consiste precisamente na enorme distância entre a qualidade intelectual, de um lado, e as demandas dos consumidores, por sua vez já manipulados, por outro.” (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
” tabu é (…)uma sedimentação coletiva de representações que (…)perderam sua base real (…) conservando-se porém com muita tenacidade como preconceitos psicológicos e sociais, que por sua vez retroagem sobre a realidade, convertendo-se em forças reais”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
Sobre o Complexo da Violência Física
” O menosprezo pelos professores (…) poderia ser caracterizado como o ressentimento do guerreiro que acaba se impondo ao conjunto da população pela via de um mecanismo interminável de identificações. Todas as crianças revelam, afinal, uma forte tendência a se identificar com ‘coisas de soldados’, como se diz tão bem hoje em dia; lembro apenas o prazer com que os meninos se fantasiavam de cowboys, e a satisfação com que correm ‘armados’ por aí.” (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“O professor é herdeiro do monge; depois que este perde a maior parte de suas funções, o ódio ou a ambiguidade que caracterizava o ofício do monge é transferido para o professor”.
“o professor se converte lenta, mas inexoravelmente, em vendedor de conhecimentos, despertando até compaixão por não conseguir aproveitar melhor seus conhecimentos em benefício de sua situação material.” (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
“quem se opõe ao castigo físico defende o interesse do professor ao menos tanto quanto o interesse do aluno. Só é possível esperar alguma mudança neste complexo a que me refiro quando até o último resquício de punição tiver desaparecido da memória escolar.” (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
” A minha hipótese é que a imagem de ‘responsável por castigos’ determina a imagem do professor muito além das práticas dos castigos físico escolares. Se eu tivesse que orientar investigações empíricas acerca do conjunto complexo do professor, então esta seria a primeira a me interessar. Ainda que em termos bastante brandos, repete-se na imagem do professor algo na imagem tão efetivamente carregada do carrasco”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
” A infantilidade do professor apresenta-se pela sua atitude de substituir a realidade pelo mundo ilusório intramuros, pelo microcosmo da escola, que é isolado em maior ou menor medida da sociedade dos adultos – reuniões de pais e similares são modos desesperados de romper este isolamento. Este é um forte motivo pelo qual a escola defende tão encarniçadamente suas muralhas”. (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)
Sobre os professores.
“Eles não devem sufocar suas reações afetivas, para acabar revelando-as em forma racionalizada, mas deveriam conceder essas reações afetivas a si próprios e aos outros, desarmando desta forma os alunos. Provavelmente, um professor que diz: ‘sim, eu sou injusto, eu sou uma pessoa como vocês, a quem algo agrada e algo desagrada’ será mais convincente do que um outro apoiado ideologicamente na justiça, mas que acaba inevitavelmente cometendo injustiças reprimidas.” (Theodor W. Adorno – Educação e Emancipação)